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FI
n.º 52
Os resultados do Inquérito à Fecundidade 2013 permitem-nos antever, tal como o
INE refere, uma possibilidade de recuperação da fecundidade em Portugal,
considerando que, em termos de fecundidade esperada ao longo do curso de vida,
os valores reportados se aproximam do valor assumido para esta hipótese.
Para a mortalidade: central e otimista, o que significa que, para esta componente
demográfica, foi descartada a hipótese pessimista. Quais são, no seu entender, os motivos
que podem levar a excluir uma evolução pessimista?
“Na maioria das projecções
realizadas, o que a experiência
nos mostra é que a evolução
da mortalidade é,
invariavelmente, subestimada”
MFM:
Na verdade, os exercícios de projecção assentam
numa extrapolação de comportamentos do passado.
No caso particular da mortalidade, estes evidenciam uma
tendência consistente no sentido do aumento da esperança
de vida à nascença. Contudo, a variação deste indicador
pode vir a revelar ritmos diferentes: um aumento mais
acelerado ou, pelo contrário, ocorrer uma desaceleração
do crescimento da esperança de vida à nascença.
Mas, no horizonte temporal do presente exercício, também não nos parece provável que se venha
a assistir a uma inversão no comportamento desta variável microdemográfica, previsão
que poderia vir a suportar uma hipótese pessimista. De referir ainda que, na maioria das projecções
realizadas, o que a experiência nos mostra é que a evolução da mortalidade é, invariavelmente,
subestimada.
Para as migrações internacionais: acrescenta, às hipóteses pessimista e otimista, a hipó-
tese sem migrações. Na sua opinião, de que forma podem os fluxos migratórios influenciar
a dinâmica demográfica?
“É sempre importante considerar
um cenário sem migrações, de modo
a que se possa conhecer a tendência
de evolução da população tendo em
conta apenas o movimento natural”
MFM:
Os fluxos migratórios, apesar de muitas vezes serem excluídos dos exercícios de projecção
da população, devido à sua volatilidade e dificuldade de medição, condicionam definitivamente
a evolução da população, principalmente nos curto e médio prazos. Influenciam directamente a
dimensão (movimento de entradas e saídas), a estrutura populacional (função da idade dos
migrantes) e, indirectamente, condicionam o comportamento das restantes componentes da
dinâmica demográfica (mortalidade e fecundidade). Todavia, num exercício como o que o INE
elaborou, é sempre importante considerar um cenário sem migrações, de modo a que se possa
conhecer a tendência de evolução da população tendo em conta apenas o movimento natural
(i. e., a previsão da dinâmica demográfica em função das hipóteses admitidas apenas no respei-
tante à mortalidade e fecundidade futuras) e perceber quais as possíveis consequências que daí
advirão para a sociedade portuguesa.