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FI
n.º 43
Alguns dos principais eixos da mudança, como o agravamento das polarizações económicas,
a reestruturação demográfica com novas dinâmicas do trabalho e a deslocação das
estruturas tradicionais do poder, fizeram emergir uma consciência global acerca das
crescentes disparidades sociais, desmontando a ideia de que o crescimento económico tem
necessariamente consequências diretas namelhoria das condições de vida das populações.
"
Para a maior parte do mundo, a globalização, como tem sido
conduzida, assemelha-se a um pacto com o demónio. Algumas
pessoas ficam mais ricas, as estatísticas do PIB pelo valor que
possam ter aparentam melhoras, mas o modo de vida e os
valores básicos da sociedade ficam ameaçados. Isto não é como
deveria ser."
Joseph E. Stiglitz
(
Prémio Nobel de Economia, 2001)
O contexto não podia ser, portanto, mais propício
ao fomento de reflexões e debates inflamados
sobre alternativas à economia neoliberal, lançando
conceitos como
organizações não lucrativas
,
economia solidária e cooperativa
,
terceiro setor
,
terceiro sistema
.
Todos aqueles termos estão
associados a uma visão alternativa, denominada
Economia Social, que procura fazer face às
consequências negativas da inexorável lógica do
lucro, ao mesmo tempo que tenta colmatar as
limitações do Estado nas áreas sociais.
O agravamento da crise económica
mundial tornou ainda mais premente uma
reflexão séria sobre o sentido da
Economia Financeira e, também, da
Economia Social, bem como sobre o
reconhecimento da necessidade de se
gerarem instrumentos de regulação social
mais ágeis, flexíveis e participativos,
enquanto o
Empowerment
clamava, como
política alternativa de desenvolvimento,
pela reconstituição das comunidades
através da recuperação de uma cidadania
ativa e solidária.
A chancela das Nações Unidas
Neste contexto, emergiam novas formas de contabilidade social, na linha dos
Relatórios
sobre o Desenvolvimento Humano
das Nações Unidas, onde se começava a reavaliar o
progresso, não apenas em função do PIB, mas também do conjunto de indicadores que
avaliam a qualidade de vida da população e a sustentabilidade do desenvolvimento ao nível
ambiental. Afinal, se o objetivo central do desenvolvimento é o homem, a economia é um
meio. E, doravante, as respostas a dar devem integrar as várias dimensões de vida.
O valor crescente da Economia Social
Ora, a Economia Social pode oferecer respostas integradas e inovadoras às necessidades
reais de bens e serviços das populações, conjugando rentabilidade e solidariedade,
associando a produção e o desenvolvimento sustentável e potenciando o exercício da
cidadania ativa e da responsabilidade social das organizações. Não tendo como objetivo a
maximização do lucro do capital, os excedentes, se os houver, são maioritariamente
investidos na melhoria do desempenho da própria entidade.